Como é o dia-a-dia de um cuidador de idoso? Suas motivações, dificuldades, necessidades, imprevistos e relação com os familiares? Algumas cuidadoras da Filha & Cia relatam como exercem essa atividade, que requer muito amor, doação e conhecimento técnico. As entrevistas apontaram que dedicação, controle emocional, paciência, comprometimento, respeito, atenção, ética e principalmente empatia são requisitos fundamentais para quem deseja abraçar essa profissão.
A motivação
“Eu descobri que gosto de cuidar quando trabalhei na prefeitura, por 7 anos, com crianças deficientes e com síndromes diversas como autismo, paralisia cerebral, TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), Down entre outras, revela Iraci Dias. Atualmente, como cuidadora de idosos, destaca a importância da proatividade nessa profissão. A cuidadora descreve um fato que ocorreu em seu plantão, quando percebeu que a pessoa assistida apresentava oscilação discrepante na pressão arterial. Ela não pensou duas vezes. Levou-a para o Pronto Socorro onde a idosa foi imediatamente medicada e hoje, com os remédios diários, o problema está controlado. “Tudo se resolve, quando se tem responsabilidade e interesse; ver o outro sentindo-se bem com os meus cuidados, é muito prazeroso. Isso é o que me motiva a trabalhar como cuidadora”.
A cuidadora Jéssica Caren Porfírio Cesar está na área de saúde há 5 anos e quer se desenvolver muito nessa profissão. Considera o trabalho de cuidadora um grande desafio, pois aprende diariamente a manobrar as dificuldades que se apresentam no ato de cuidar da pessoa idosa. “No futuro, eu posso precisar de um cuidador pra cuidar de mim e isso me inspira a ser uma pessoa e uma profissional melhor a cada dia”, argumenta.
Para a técnica de enfermagem Raete da Silva Aristoff, cuidar é a arte de saber lidar com as fragilidades físicas, é praticar o amor ao próximo. “Os idosos são muito especiais e com a nossa ajuda, de alguma forma, nos tornamos ‘anjos’ para eles. É uma dádiva”. Quer motivação maior?
O avô militar foi a grande inspiração da Priscila Alice da Silva, de quem ela guarda as melhores lembranças. “Acompanhei meu avô na sua fase do Alzheimer e tinha momentos muito engraçados, quando ele cantava todos os hinos das forças armadas, se vestia pra ir ao batalhão, até o momento em que a família precisou esconder as chaves de casa pra ele não sair sozinho”. Foi nesse ambiente de cuidados com o familiar que ela descobriu a sua verdadeira vocação e motivação para atuar no setor da saúde, com trabalhos em hospitais, desde os 17 anos, e depois fazendo cursos na área de enfermagem.
A supervisora da Filha & Cia Aline Martins Fontana, gerontóloga e há 8 anos atuando nesse segmento, identificou que o trabalho de cuidador de idoso pode fazer a diferença na vida de outra pessoa e trazer alívio nas mais diversas situações do dia-a-dia. “Muitas vezes os idosos não tem voz ativa e são ignorados. Senti que poderia ser a voz de muitos deles, para que pudessem envelhecer dignamente”, justifica. “Já vi casos de idosos desenganados , onde a família achava que logo eles partiriam e, com os cuidados adequados renasceram, voltaram a se alimentar, as vezes até a caminhar”, complementa.
As dificuldades
Na opinião de Aline Fontana, os familiares – quase sempre – são os grandes dificultadores: “ou exageram nos cuidados ou demoram muito para compreender a fragilidade da situação”, justifica.
Uma unanimidade entre elas é que a sociedade, em geral, ainda não entendeu que cuidadores são da área da saúde e bem-estar e não do setor de limpeza doméstica. Essa mistura de funções sobrecarrega e desvaloriza todo o aprendizado, estudo, tempo e investimento. “Falta regulamentação, falta a desvinculação com os serviços domésticos, falta a conscientização da população de que um cuidador não é apenas um trocador de fraldas”, desabafa a supervisora, que também menciona a baixa remuneração praticada no mercado.
Da mesma opinião compartilha a Iraci Dias. “A profissão precisa ser mais valorizada, mais reconhecida. Realizamos um trabalho importantíssimo exatamente no momento em que o idoso praticamente perde o prestígio como ser humano. Mas, continua tendo o seu valor para aqueles que os ama”.
O “relax”
Assim como o idoso assistido, o cuidador também precisa investir na sua qualidade de vida para não adoecer. Para essas cuidadoras, os momentos de folga são para relaxar e fazer o que gostam: dançar, sair com os amigos, ler, cuidar do lar, da família, ouvir uma boa música, estar perto da natureza, ou simplesmente, descansar. Usar o tempo livre com sabedoria ajuda muito a recuperar as energias e ganhar fôlego para a próxima jornada.
A Filha & Cia
Desde 2014 atuando em gestão de serviços para idosos, a Filha & Cia busca incentivar os seus colaboradores a nunca parar de estudar para desenvolver habilidades e conhecimentos específicos que esta profissão demanda. Não somente com o suporte técnico necessário, mas também no contexto comportamental. Quem lida com idosos enfermos e dependentes de cuidados especiais precisa também manter uma relação saudável e harmoniosa com a família do paciente para que esse atendimento resulte satisfatoriamente.
“Estou há 5 anos na Filha & Cia e vejo que o comprometimento da empresa com o bem-estar do idoso e de seus colaboradores é levado muito a sério. Nesse período, trabalhei com vários clientes e também estou tendo a oportunidade de exercer outras funções, nas áreas de supervisão e de recursos humanos, o que muito me acrescenta. Aqui, os profissionais são valorizados e nossas necessidades e dificuldades são ouvidas de uma maneira muito humana”, resume Aline Fontana.